Temos a seguinte proposição:
“O relativismo é a morte da Razão.”
Em primeiro lugar, temos de saber o que significa “relativismo” e o que significa “Razão” (com maiúscula), e depois saber de que forma e em que contexto estes dois conceitos são utilizados.
“Relativismo” pode ter uma conotação ideológica com a teoria do conhecimento, por um lado, ou com sociologia, por outro lado.
Na área da teoria do conhecimento, “relativismo” pode ter três sentidos:
1/ ou no sentido atribuído pelo sofista Protágoras (sentido este que ainda hoje é utilizado, e cada vez mais está na moda), segundo o qual a verdade é relativa aos indivíduos1;
2/ ou no sentido do Positivismo, que defende a ideia segundo a qual a ciência se deve restringir ao relativo, alegando a impossibilidade de um conhecimento empírico absoluto dos princípios e das causas primeiras, e reduzindo toda a realidade a um espectro marcado pelo determinismo de causa-efeito.
3/ Na sociologia, o relativismo consiste em afirmar que não existem diferenças culturais e de valores entre as sociedades, e critica quem faça juízos de valor acerca das culturas e valores de outros povos.
No sentido 3/ e no sentido 1/, o relativismo recusa que possam existir quaisquer valores universais, o que significa a negação da ética — porque os valores da ética, quaisquer que sejam, têm que ser universais. Portanto, é mais neste sentido (ético) a que se refere a proposição supracitada.
Definir “razão” é complicado porque se trata de um conceito alargado, mas podemos definir Razão (com maiúscula) como “a faculdade de combinar juízos de forma a julgar bem” — sendo que “juízo” é:
“O processo mental que nos permite expressar e afirmar algo, estabelecendo uma relação entre um sujeito (S) e um predicado ( P) por intermédio da cópula (verbo), e estabelecendo relações entre conceitos que podem ser de afirmação ou de negação ou de indefinição. A expressão verbal do juízo é a proposição.”
Qualquer juízo tem que partir de um princípio que pode estar certo ou errado.
Em Lógica, chama-se “princípio” a uma proposição colocada fora de discussão no início do raciocínio. Mas na teoria do conhecimento, o “princípio” é a “causa primeira” – por exemplo, Aristóteles define a “sabedoria” como ciência “das primeiras causas e dos primeiros princípios”.
Portanto, qualquer proposição parte de um princípio, mas este princípio escora-se noutro princípio, e este último ainda noutro que lhe é anterior, e assim sucessivamente, até que se chegue à definição de Aristóteles de “princípio” ou “causa primeira”. Essa causa primeira é o Absoluto. Não existe relativo sem o Absoluto. Portanto, podemos dizer o seguinte:
Se não existe nenhuma possibilidade de enraizar a ética no Absoluto, todas as reflexões são inúteis e a lógica não existe. A razão humana entendida e concebida sem o Absoluto não é Razão.
Editado por (OBraga)