Positivismo

O positivismo é o romantismo das ciências. A tendência própria do romantismo para identificar o finito com o infinito1, para considerar o finito como a revelação e a realização progressiva do infinito é transferida e realizada pelo positivismo no seio da ciência.

Com o positivismo, a ciência exalta-se, apresenta-se como a única manifestação legítima do infinito e, assim, assume um carácter religioso, prendendo suplantar as religiões tradicionais.

O positivismo é parte integrante do movimento romântico do século XIX. Que o positivismo seja incapaz de fundar os valores morais e religiosos e, especialmente, o próprio princípio de que dependem, a liberdade humana, é um ponto de vista polémico, que a reacção anti-positivista, espiritualista e idealista da segunda metade do século XIX fez prevalecer na historiografia filosófica. Assim se pode considerar justificado, no todo ou em parte, este ponto de vista.

Mas é fora de dúvida que, nos seus fundadores, e nos seus epígonos, o positivismo se apresenta como a exaltação romântica da ciência, como infinitização, como pretensão a valer de única religião autêntica, e por conseguinte, como único fundamento possível da vida humana individual e social.

O positivismo acompanha e promove o nascimento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade, fundada e condicionada pela ciência. Exprime as esperanças, os ideais e a exaltação optimista que provocaram e acompanharam esta fase da sociedade moderna. O Homem, nesta época, julgou ter encontrado na ciência a garantia infalível do seu próprio destino. Por isso rejeitou, considerando-a inútil e supersticiosa, toda a garantia sobrenatural e pôs o infinito na ciência, encerrando nas formas desta, a moral, a religião, a política – a totalidade da sua existência.

(…)

O materialismo, que alguns epígonos deduzem do positivismo evolucionista, é, ele próprio, uma metafísica romântica: a deificação da matéria e o culto religioso da ciência.//

“História da Filosofia”, de Nicola Abbagnano, Tomo X, §629, Editorial Presença, Lisboa, 1970

Editado por (OBraga)

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