Nova Teologia

Nova Teologia

A chamada Nova Teologia surge do pensamento de teólogos protestantes cristãos do século XX, como por exemplo, Karl Bath, Rudolf Bultmann ou Dietrich Bonhoeffer, e marcou e influenciou decisivamente o Concílio do Vaticano II.


Podemos descrever a Nova Teologia em sete pontos principais.

1/ A Nova Teologia tende a separar a , por um lado, da religião, por outro lado, e mesmo a contrapôr a fé à religião.

A religião é considerada (pela Nova Teologia) como expressão mítica e/ou contingente da fé, condicionada pelo ambiente histórico do passado, e que se tornou inaceitável no mundo contemporâneo1 dominado pelo racionalismo, pela ciência e pela tecnologia.

Esta recusa da religião, por parte da Nova Teologia, é também a recusa de todo o aspecto cultural ou ritual da religião, ou seja, a Nova Teologia tende a negar o culto religioso todo, por um lado, e nega qualquer valor em confronto com aquilo a que chama “fé autêntica”.

A renúncia à importância do aspecto cultural da fé tende a diminuir ou anular mesmo a distância entre as diferentes religiões2, sendo esta tendência reforçada pelo panteísmo declarado de muitos teólogos da Nova Teologia.

2/ A , segundo a Nova Teologia, pode e deve prescindir de todo e qualquer elemento sobrenatural.

O sobrenaturalismo é – segundo a Nova Teologia – precisamente o resíduo da religião mítica tradicional que deve ser erradicada da cultura antropológica, o que significa que não existe um mundo diferente daquele em que o homem vive e age; não existe um sobremundo do qual o mundo humano constituiria apenas a aparência e o vestíbulo3.

A Nova Teologia não é senão a aceitação plena e simples do racionalismo moderno tal como foi afirmado pelo Iluminismo. Já não há lugar para o mistério de Deus, e Deus não está para além dos limites do conhecimento ou dos poderes humanos, no acessível e no inexprimível: Deus reside na própria natureza do homem enquanto tal. Este é o sentido da afirmação de Bonhoeffer4 de que Deus se encontra no centro do homem e do seu mundo.

3/ Deus não é transcendente no sentido de ser uma substância ou uma realidade qualquer, separada da Natureza e do mundo, e dotada de causalidade própria, podendo intervir nos acontecimentos do mundo e modificá-los.

A causalidade de Deus identifica-se com a causalidade natural e histórica5, e até mesmo a iniciativa divina da Graça opera por meio da livre escolha (livre-arbítrio) dos homens. Trata-se, sem dúvida alguma, do panteísmo clássico, expresso na fórmula de Espinoza de Deus sive Natura que identifica a causalidade divina com a mundana e histórica.

4/ A transcendência negada a Deus (pela Nova Teologia) constitui, pelo contrário, a índole da realidade humana6.

O ser do homem é transcendente na medida em que a existência do homem indivíduo se encontra sempre em relação com a existência dos outros: existir, diz Bonhoeffer, significa existir para os outros.

“O transcendente não é um dever-ser infinito e inatingível (Deus), mas sim o homem próximo, determinado de vez em quando e atingível”.

5/ Jesus Cristo incorpora a noção de transcendência do ponto anterior.

A divindade de Cristo é interpretada pela Nova Teologia como o modelo, a antecipação ou o anúncio daquilo que o homem é ou deverá ser no decurso da sua história no mundo (utopia). A Igreja Católica tradicional diz que "Jesus é Deus”, e a Nova Teologia7 diz que “Deus é Jesus”, o que significa que Deus se negou a Si Mesmo ao tornar-se carne, e deixou de existir como espírito transcendente ou desencarnado8.

6/ A Nova Teologia partilha o Milenarismo dos primeiros cristãos, mas tende a dar à escatologia um sentido puramente mundano (a utopia do Mundo Melhor, em que os seres humanos serão perfeitos e o Mal será erradicado: acontecerá, então, o paraíso na Terra).

7/ Com a negação do valor da religião, por um lado, e de todas as formas de culto religioso, por outro lado, a Nova Teologia tende a identificar-se ou com a ética (filosofia), ou com a política.

Mas trata-se de uma ética humana e mundana que não implica renúncia, resignação ou sacrifício, exaltando até – como fez Nietzsche – os valores naturais e humanos: a saúde, a alegria de viver faustosamente do ponto de vista material, a sexualidade livre e o bem-estar do corpo9. William Hamilton escreveu mesmo:

“A morte de Deus é o acontecimento menos abstracto que se pode imaginar: conduz imediata- e plenamente a modificações políticas revolucionárias e conduz também às tragédias e delicias deste mundo.”10


Editado por (OBraga)

Unless otherwise stated, the content of this page is licensed under Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 License