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História das origens da maçonaria
A geografia do antigo Oriente
As relações entre a Geografia e a História [1] são particularmente estreitas no desenvolvimento da Antiguidade Oriental. Dois países, a Mesopotâmia e o Egipto, estavam destinados a desempenhar nela um papel preponderante. Ambos países aluviais, extremamente férteis, que devem a existência e a fecundidade aos rios que os atravessam: o Tigre e o Eufrates naquele, o Nilo neste. Ao mesmo tempo, as suas bacias hidrográficas são suficientemente extensas para permitir o estabelecimento de grandes Estados e o desenvolvimento de altas civilizações.
Também a História da Antiguidade Oriental é caracterizada por um movimento migratório perpétuo para estes dois países, sem dúvida os mais favorecidos de todos, pois foi neles que começou a História da humanidade e se instalaram poderosos impérios, milhares de anos antes da era cristã. Entre o Egipto e a Mesopotâmia está a Síria e, ao sul desta, a Palestina que se estende por um comprido vale, entre orlas de montanhas e de planaltos. É uma região fértil mas muito isolada pelo deserto, que prolonga a Arábia até ao Eufrates, e pelo Mediterrâneo, para lá se poder ter instalado uma forte potência política e se poder ter fragmentado em vários estados, pois é muito mais comprida que larga. A Palestina era, pois, uma presa fácil para os impérios que na antiguidade a limitavam pelo Norte, pelo Sul ou por Leste. Situada entre as duas potências do Eufrates e do Nilo, Canaã devia ser cobiçada alternadamente por elas e tornar-se o pomo de discórdia nos períodos das suas rivalidades. Nenhum Estado florescente podia aí desenvolver-se, a não ser quando se verificasse a fraqueza simultânea daquelas potências. Ordinariamente, Israel viveu sob a suserania dum ou doutro destes impérios e, em qualquer caso, as peripécias da sua História exterior são, na maior parte das vezes, comandadas por intervenção delas.
O clima e o relevo da Ásia Ocidental
Depois de os Persas serem substituídos pelos Gregos, seus grandes rivais, a Palestina ficou sujeita à mistura de povos, pois para isto parece ter sido destinada a Ásia Ocidental. Com efeito, encontramos nesta parcela deste grande continente uma justaposição de terras altas e baixas, de formas ora muito velhas ora muito novas, de regiões penetráveis e de países fechados. Mas as influências desérticas dão a estas diversas regiões a unidade dum clima com grande amplitude térmica que a desigualdade do relevo ainda mais acentua. Ora a combinação destes dois termos, em que um ― o clima ― gera a unidade, enquanto outro ― o relevo ― produz a diversidade, cria um novo laço entre os elementos da Ásia Ocidental. É precisamente a violência dos contrastes da altitude, perturbadora da unidade climática, que estabelece, entre as regiões assim diferenciadas, uma verdadeira solidariedade expressa nas deslocações regulares dos povos indígenas. Utilizando as diferenças de altitude, aproveitando contrastes, o Homem encontra nas montanhas um refúgio contra os ardores e secas do estio, mas durante o inverno desce para as planícies onde a temperatura é mais amena e a terra mais propícia para o trabalho. E, por isso, todos os anos, num ritmo regular, longos cortejos de homens, mulheres e crianças, acompanhados pelos seus animais domésticos, sobem as encostas na Primavera, para as descerem no Outono. Há, em toda a Ásia Ocidental, duas vezes por ano, uma procissão geral.
A Ásia Ocidental foi uma região de nómadas onde aquelas deslocações anuais degeneraram em migrações e conquistas. Os montanheses Persas e Medos, descendo todos os invernos aos confins das ricas planícies da Babilónia e da Susiana (ver mapa), não resistiram à tentação de as ocupar um dia, definitivamente. Também os Semitas da Arábia continuamente ultrapassavam os limites onde, de ordinário, os Beduínos se detinham e os Turanianos, que frequentavam as encostas ao norte do Irão, acabavam sempre por as transpor e por se instalar nas planícies. A Ásia Ocidental é a região das grandes invasões, dos impérios imensos e efémeros, das deslocações de povos e de civilizações, não só porque é uma zona de imenso tráfego, mas também porque favorece o nomadismo, pela variedade da sua estrutura e pelos contrastes de altitude, com os recursos que essa variedade frequentemente origina.
Foi neste ambiente que os hebreus ― um povo semita ― se tornaram traficantes de cultura.
Os povos que interagiram com os judeus
Quando apareceu Abraão, no tempo de Hammurabi, que reinou de 1947 a 1905 a.C., segundo o cômputo actualmente seguido pela maior parte dos assiriólogos, o Oriente tinha já uma longa História.
Os Sumérios
No quarto milénio antes da nossa era ― provavelmente no século V ― os habitantes primitivos da região situada no curso inferior do Tigre e do Eufrates, habitantes que costumavam designar-se pelo nome de Subarianos, foram subjugados pelos Sumérios ― povo de raça e de origem ainda desconhecidas. A sua história principia cerca de 3300 a.C., em Ur, que foi a pátria de Abraão cerca de 1350 anos mais tarde. Nesta altura têm já uma civilização muito desenvolvida, possuem escrita cuneiforme, a organização civil e militar está bem assente, a agricultura, a arte e o comércio são florescentes. Encontram-se também dinastias sumerianas em Larsa, em Lagash, em Erek, cujo régulo, Lugalzaggisi, conquista toda a região de Sumer e avança até ao Mediterrâneo cerca de 2650 a.C.
Os Acadianos
Ainda antes de 3000, semitas vindos da Arábia instalaram-se ao norte dos Sumérios, sendo a sua principal cidade Akkad (ou Agade). São conhecidos por Acadianos. Dominaram também em Kish, Sippar e Kutha, e mais tarde, na Babilónia. Depois de muitas lutas com os Sumérios, depois de novos invasores terem descido das montanhas do norte e de leste (os Guti e e os Elamitas), auxiliados por outras tribos da sua raça ― os Amorreus, que se espalharam à volta do Eufrates até Canaã ― acabaram por tornar-se senhores absolutos da Babilónia com Hammurabi (1947 ― 1905) e dominaram toda a Mesopotâmia como herdeiros da civilização sumeriana. Foram, ao mesmo tempo, notáveis organizadores, segundo prova o celebre Código de Hammurabi, descoberto em 1901 d.C.
Os Assírios
Desde 2600, os Assírios, agrupados primeiramente à volta da cidade de Assur, espalham-se depois até à Capadócia. Foram vassalos ora dos Sumérios, ora dos Elamitas, ora da Babilónia, com períodos de independência, mas, depois de conseguirem definitivamente a autonomia, conquistaram uma parte notável da Ásia Ocidental no reinado de Samsi-Adad I (1892 ― 1860), para regressarem,pouco tempo depois, à sua montanhosa região.
Os Hititas
Estabelecidos cerca de 2000 no vale de Halys, na Ásia Menor, sob a hegemonia duma tribo indo-europeia vinda dos Balcãs, os Hititas estenderam-se até Alep e, cerca de 1750, apoderam-se da Babilónia.
Egipto
A história do Egipto começa sensivelmente ao mesmo tempo que a da Mesopotâmia ― cerca de 3300 anos antes de Cristo ― o que leva alguns historiadores a questionarem-se se os Egípcios dos primórdios e os Sumérios não teriam tido a mesma origem, seguindo depois percursos civilizacionais diversos[2], como é natural num mesmo povo que se separa. A minha opinião é de que existe uma ligação estreita entre os dois países ― Suméria e Egipto ― porque a origem primeva dos dois povos seria a mesma.
No Egipto manifesta-se desde o seu período arcaico, uma cultura surpreendente: foi inventada a escrita hieroglífica, produziram-se admiráveis obras de arte. A quarta dinastia, a dos faraós construtores das pirâmides ― Kéops, Kéfren e Mikerinos ― marca talvez o apogeu da civilização egípcia pela grandeza e poder dos monumentos e da escultura (cerca de 2800). Depois dum período de decadência, ao Antigo Império ― cuja capital era Mênfis ― sucede o Império Médio com a sua capital mais a sul, Tebas (2000 a 1500). A 12ª dinastia, que inaugura o Império Médio, com os Amenemhet e os Sesóstris, assinala uma nova época de civilização florescente e de grande influência política. Depois, nas dinastias seguintes, o poder dos faraós enfraquece e por 1700, pouco depois da tomada da Babilónia pelos Hititas, as tribos asiáticas dos Hyksos invadem o vale do Nilo.
As influências pagãs no monoteísmo judaico
Simplificando, podemos dizer que a religião monoteísta dos hebreus pode ser divida em quatro grandes períodos: a religião patriarcal, a religião mosaica, a religião profética e a religião judaica, e em todos estes períodos da religião de Javé, esteve presente o heretismo das influências pagãs dos povos vizinhos de Israel. Desde que Taré saiu de Ur com os seus filhos Abraão e Nacor, na Babilónia, conduzindo o seu povo para Canaã conforme as ordens de Javé, que o paganismo babilónico sempre acompanhou os hebreus, e até aos dias de hoje. A migração da família de Abraão para terras de Canaã prende-se também com a instabilidade política e militar que se vivia em Ur, porque a a luta entre cidades rivais da Baixa-Mesopotâmia era então vivíssima, o que explica que clãs inteiros tenham emigrado da região de Ur [3]. Note-se que o clã de Taré não era indígena de Ur (cidade sumeriana), mas eram descendentes dos Amorreus que tinham vindo reforçar as forças semitas que ocuparam a Caldeia, no fim do terceiro milénio a.C. Ezequiel disse de Jerusalém: “O teu pai era amorreu e a tua mãe ceteia” (Ezeq. XIV, 3).
Devido ao carácter nómada dos hebreus, e dada impossibilidade de um povo nómada carregar consigo o panteão dos seus deuses durante as suas transumâncias, surgiu o monoteísmo. Com Moisés, o monoteísmo de Javé foi imposto aos hebreus e todos os símbolos e resquícios culturais pagãos herdados da culturas vizinhas com que os hebreus conviveram, foram proibidos. Contudo, na aliança entre Abraão e Javé continuaram presentes influências do paganismo de Baal: o sacrifício de animais ou pessoas 1 (o sacrifício da aliança) e a circuncisão. Esta última sempre fez parte dos rituais iniciáticos dos Sumérios e Acadianos e estava espalhada no mundo semítico entre os Edomitas, Moabitas (os filhos de Ammon) e Árabes, e passou por osmose cultural para os hebreus monoteístas depois de Abraão. Para além do sacrifício da aliança e da circuncisão, que foram permitidos pelo ritual monoteísta, outras influências existiram que passaram para a cultura hebraica mas que foram sendo reprimidas ao longo do tempo ― embora sem sucesso.
Toda a História de Israel é um cortejo de tentações heréticas de retorno ao paganismo, de prevaricações e de reacções contra essas prevaricações dum grupo que teve sempre os seus chefes espirituais por uma disposição visível da Providência e uma longa teoria de intervenções sobrenaturais. O bezerro-de-ouro nada mais foi do que a representação de Javé decalcada nos ídolos pagãos da Mesopotâmia, mas durante o exílio no Egipto, foi também o boi Ápis, o touro de Hadad, símbolo do poder dum deus da chuva e da trovoada. A tentação verificava-se sempre que Israel vivia no meio de povos cuja civilização se mostrava superior à sua e que lhe eram congéneres. Entre Êxodo e a fundação da realeza israelita, os hebreus sofreram a tentação cananeia ― sem falar na tentação dos filisteus porque estes, que não eram semitas, tinham não obstante adoptado a civilização e os cultos cananeus. A tentação fenícia e assíria verificaram-se mais tarde, durante a realeza. Depois vieram para os exilados as seduções da Babilónia, a grande prostituta.
Após o regresso do exílio foi a tentação do sincretismo palestiniano e samaritano e, finalmente, no tempo de Antíoco Epífano IV, veio a tentação helenística, século e meio depois de o Oriente ter sido helenizado. [4]. O culto grosseiro dos cananeus2 tonou-se uma obsessão entre os hebreus. Os Baals, Astartes e Asheras eram venerados como senhores dum solo a que os hebreus, nómadas entretanto transformados em agricultores, se ligavam até pela dureza do trabalho que era o resgate da sua fecundidade, enquanto Javé ― aquele Deus que se tinha revelado a Moisés no Sinai granítico e inculto, o condutor das tribos no deserto ― podia parecer indiferente à fertilidade duma terra que não tinha abençoado desde a origem. Enfim, os ídolos cananeus, ainda que sem beleza, falavam mais à imaginação que o culto sem imagens publicado na montanha santa.
O Monoteísmo e a tentativa de recuperação da heresia pagã da Ásia Ocidental
A palavra Iavhé que no antigo hebreu é o imperfeito do verbo hawâh, significa “ser”. Se é o imperfeito da forma simples, significa que o nome divino é o nome d’Aquele que existe com plena continuidade, desde as origens e para sempre. Se for o imperfeito da forma causativa, quer dizer que Iavhé é o que fez ser, isto é, a causa de todos os seres, que os conserva na existência e na vida com a sua acção contínua ― aquilo que a maçonaria e a Cabala dizem ser o “lado de lá” e o “lado de cá”.
Para a Cabala ― e concomitantemente para a judaico-maçonaria ― Deus divide-se em “dois lados”. É interessante saber que a maçonaria recuse a ideia de Trindade cristã mas já defende uma ideia bipolar judaica e cabalística de Deus. Esta ideia bipolar de Deus tem como intuito instituir a ideia do Grande Arquitecto do Universo maçónico ― independentemente da Criação do Universo propriamente dita, isto é, o Grande Arquitecto do Universo maçónico é mais um “gestor” de recursos previamente existentes (Cosmos) do que propriamente o seu Criador ― parte do princípio de que o Cosmos já existia quando o Grande Arquitecto do Universo agiu na sua ordenação sistémica e o retirou do caos.
A ideia do Grande Arquitecto do Universo maçónico é luciferina, isto é, o Grande Arquitecto do Universo maçónico, visto na perspectiva bipolar do “lado de cá”, é o próprio Lúcifer ― que não passa da transmigração cultural dos deuses pagãos de Moab (Camos), de Amon Moloch, em Tiro e Sídon tinham o Baal e Astarte, na Síria o deus Hadad, na Babilónia tinham o deus Marduk, e os assírios veneravam Assur, no Egipto em Núbis ― para não falar nos outros deuses egípcios “recuperados” pela maçonaria especulativa. Todos estes deuses pagãos foram sintetizados pela maçonaria templária no Lúcifer judaico-cristão, que é realmente o equivalente de todos esses deus pagãos da Antiguidade. Sob o ponto de vista histórico-teológico, Baal, Marduk, Hadad, Camos, Moloch e Lúcifer, são a mesma e única coisa.
Acontece que o monoteísmo judaico “recuperou” alguns valores do paganismo circundante, assim como a Igreja Católica o fez com a “recuperação” das festas pagãs dos solstícios. Na revelação de Moisés, as forças actuantes “deste lado” (na criação do universo) aparecem com o nome de “Eloim” (masculino plural do feminino singular “Eloah”). Temos, pois, El → Eloim e/ou Eloah ― existia, portanto, um vocábulo comum aos deuses pagãos e a Javé.
“É preciso determinar, primeiro, o conceito que os semitas tinham do divino. Neles encontramos de tudo, desde as mais sublimes ideias de justiça e de caridade até às prostituições sagradas dos dois sexos”. [6]
A ideia de sacrifício humano e animal, amplamente praticada pelos cananeus, babilónios, egípcios, assírios e pelos fenícios (conforme registos históricos de Cartago) e a ideia da circuncisão, são outros aspectos da “recuperação” de rituais pagãos luciferinos que foram assim introduzidos nos ritos monoteístas judaicos a Javé. A grande Revolução do Cristianismo foi a de tentar cortar definitivamente os laços entre o monoteísmo e o paganismo, o que não veio a acontecer totalmente devido à instituição de uma idolatria católica baseada na devoção às figuras representativas dos santos.
Conclusão
O monoteísmo judaico, com a sua exigência moral, com as promessas e a complexidade do seu sentido, foi imposto por uma elite hebraica ao seu povo, por palavras e ainda mais por obras. “Só Ele é Deus, e o vosso deus não é nada”. Profetas, levitas, nazarenos votados a Deus com abstenção de bebidas fermentadas, com a cabeleira intonsa, 3 pessoas piedosas que, como os pais de Samuel, cultivavam na intimidade da família sentimentos doces e puros. Este judaísmo é conhecido como o Alto-judaísmo.
A História da religião de Israel pode ser resumida a uma luta constante entre o paganismo da Ásia Ocidental e o monoteísmo. O heretismo pagão esteve sempre presente na cultura judaica e foi transportada para a Europa através da migração massiva de judeus depois da ocupação árabe islâmica da Palestina e da Assíria em 634 d.C.
Com as cruzadas, essas influências pagãs foram assimiladas por uma elite europeia que tomou contacto não só com as teurgia teurgias pagãs de Baal e do politeísmo egípcio, mas também com as técnicas de construção de edifícios de toda a região da Ásia Ocidental, desde a Caldeia até ao Egipto.
Dos cruzados europeus, destacam-se os Templários. Foram estes os grandes responsáveis pela reintrodução do heretismo pagão do oriente-médio na Europa, criando o esboço do que viria ser chamado de maçonaria especulativa, e inseminaram na Europa um monismo religioso que progrediu de um panteísmo renascentista, para um deísmo iluminista, e finalmente para o actual naturalismo cientificista e ateu. Em todo este processo de corrosão do cristianismo, e em dois mil anos de História da Europa depois de Cristo, estiveram sempre presentes os judeus ― nomeadamente o chamado Baixo-judaísmo ― embora com a ajuda beneplácita de uma grande parte do clero cristão e do sistema feudal.
A “Judaico-maçonaria”
A partir de finais do século 18, surgiu a judaico-maçonaria. Com a incorporação sistemática e progressiva de judeus nas lojas maçónicas especulativas da Europa e dos Estados Unidos, acelerou-se o processo de corrupção dos valores cristãos na sociedade europeia ― desde a revolução francesa até à origem das duas guerras mundiais no século 20, passando pelo assassinato do Imperador Ferdinand, pelo assassínio da família imperial russa e pela vitória bolchevique, pelo assassínio do rei português D. Carlos I, e pelo assassínio do presidente americano J. F. Kennedy ― em todos estes casos as impressões digitais da judaico-maçonaria internacional foram detectadas sem quaisquer margem para dúvidas.
Artigo editado por OBraga