Provém do termo grego dialeghestai, que significa «discorrer com», isto é, dialogar. A evolução do termo remete para um sentido mais preciso, o de discussão.
Editado por Alda Martins
“A negação dialéctica não existe entre realidades, mas apenas entre definições. A síntese em que a relação se resolve não é um estado real, mas apenas verbal. O propósito do discurso move o processo dialéctico, e a sua arbitrariedade assegura o seu êxito.
Sendo possível, com efeito, definir qualquer coisa como contrária a outra coisa qualquer; sendo também possível abstrair um atributo qualquer de uma coisa para a opôr a outros atributos seus, ou a atributos igualmente abstractos de outra coisa; sendo possível, enfim, contrapôr, no tempo, toda a coisa a si mesma — a dialéctica é o mais engenhoso instrumento para extrair da realidade o esquema que tínhamos previamente escondido nela.” (Nicolás Gómez Dávila)
Editado por (OBraga)
História da dialéctica
Dialéctica segundo os socráticos
A dialéctica apareceu com Heraclito e com os eleatas1 cuja oposição doutrinal tem no entanto em comum a pesquisa das contradições do “bom senso”. Para os socráticos em geral, a dialéctica é um método de argumentação e de refutação através de perguntas e respostas.
A dialéctica foi formalmente desenvolvida pelos sofistas, por Sócrates através da maiêutica, e de modo mais profundo por Platão.
Com Platão, a dialéctica passa a ser definida como uma verdadeira ciência2 por oposição à opinião e mesmo ao saber matemático. A dialéctica platónica é a arte de encadear proposições desde os dados sensíveis até ao conhecimento de noções abstractas e até à contemplação das “Ideias” puras. Podemos dizer, também, que a dialéctica platónica é o movimento ascendente através do qual o espírito passa das aparências sensíveis aos conceitos racionais, depois às ideias, para atingir finalmente o princípio absoluto de toda a realidade: a ideia de Bem.
A dialéctica, sendo a ciência do verdadeiro para Platão, torna-se na técnica do verosímil para Aristóteles.
Aristóteles — opondo-se a Platão — inverte a relação da dialéctica e da ciência. Enquanto que, para Aristóteles, a ciência é de essência demonstrativa e incide sobre um género determinado, a dialéctica é de essência argumentativa e permite submeter qualquer tese à prova do que lhe está a favor e do que lhe está contra. Por outro lado, e segundo Aristóteles, a dialéctica não é a regra do arbitrário; Aristóteles define as suas regras no seu Tratado dos Tópicos, onde são analisadas as formas válidas da opinião comum, que podem chegar ao verosímil e ao provável, devido à falta do verdadeiro e do necessário que são reservados à ciência. Porém, e segundo Aristóteles, porque existem domínios que escapam à ciência, a dialéctica é uma arte útil e mesmo necessária.
Dialéctica segundo Kant
A dialéctica segundo Kant3 baseia-se no conceito de Aristóteles e opõe a dialéctica – ou “lógica da aparência” – à analítica – ou “lógica da verdade”. A dialéctica transcendental de Kant estuda as condições de possibilidade das contradições nas quais o espírito cai invariavelmente quando faz uso ilegítimo das suas faculdades. Segundo Kant, existe uma “dialéctica natural da razão” que leva a procurar descobrir a natureza da alma, do mundo e de Deus. Se a dialéctica produz uma aparência de saber e inventa as antinomias, essa aparência é inevitável e as contradições insolúveis, pelo menos num plano teórico.
Segundo Hegel, Kant mostrou na sua dialéctica “o objectivo da aparência e a necessidade da contradição”4.
Dialéctica segundo Hegel
A dialéctica segundo Hegel é radicalmente diferente da de Kant e retoma o conceito de Zenão de Eleia, onde o falso será pensado como fecundo, ou seja, como o momento necessário ao verdadeiro. A dialéctica, aqui, não é um método, mas um processo de produção do verdadeiro e do saber absoluto a partir de contradições superadas. Hegel designa, tal como os gregos, a dialéctica como a penetração da verdade pelo (e no) espírito: este passa de uma ideia (tese) à ideia contraditória (antítese). Deste movimento nasce a síntese (ver movimento dialéctico), que “suprime absorvendo-a” a contradição, e assim sucessivamente até ao regresso do espírito a si mesmo.
Hegel identifica o movimento do mundo ao movimento do espírito, e reciprocamente, de modo a que a sua lógica tende a definir-se como um saber circular. A dialéctica hegeliana apresenta-se como o modo de construção, e simultaneamente a descrição, do “idealismo absoluto” (ver idealismo).
A dialéctica de Hegel levanta um problema sério: se o pensamento passa de si próprio ao seu oposto, a resolução das duas contradições (a síntese) é inconciliável com o termo inicial5 , ou arrasta incessantemente de negação em negação até um pensamento “radicalmente diferente” — o que conduziria de facto a um cepticismo relativista total.
Dialéctica segundo Karl Marx
Em Karl Marx e Engels, a dialéctica transforma-se no reflexo do real tal como é concebido pelo materialismo dialéctico: referindo-se à dialéctica hegeliana, Karl Marx afirma “tê-la posto de novo assente nos pés, pois andava de cabeça para baixo”. De facto, Marx inverteu a dialéctica de Hegel: enquanto que em Hegel as contradições que animam a História são as do espírito, para Marx as contradições são as contradições materiais e sociais da vida do Homem; é a luta de classes que é o motor da História6.
Os marxistas utilizam a dialéctica de Karl Marx como instrumento intelectual, em especial para a elucidação das contradições económicas e para a previsão da evolução política (a certeza revolucionária do futuro) que deve necessária e certamente desembocar no comunismo.
Retomando esta concepção materialista da dialéctica, Engels e Lenine elaboram uma doutrina geral do materialismo dialéctico aplicável ao universo no seu conjunto, do qual o materialismo histórico constitui um aspecto particular. Lenine resumiu esse materialismo nestes termos:
“A elasticidade universal – sob todos os aspectos – das noções, elasticidade que vai até à igualdade dos contrários7, é isso o essencial. Se esta elasticidade for usada objectivamente, isto é, se reflectir todas as fases do processo material e a sua unidade, então é dialéctica, é o reflexo exacto da evolução eterna do mundo.”
Desde logo e sem mais, a primeira incoerência de Lenine consiste no facto de a ciência já ter demonstrado que o mundo não é eterno, porque teve um início com o Big Bang.