"Para começar, gostaria de dizer que rejeito a indução como uma forma lógica válida de descoberta da verdade. (…) Eu digo que a validade indutiva não é validade dedutiva. Tomo, por assim dizer, a validade dedutiva como modelo e mostro depois que a validade indutiva não corresponde a esse modelo…
O 3765 cisne branco, por exemplo, não prova que todos os cisnes sejam brancos, mas o primeiro cisne negro prova que nem todos os cisnes são brancos…
(…) É essa naturalmente a minha teoria, que mostra que aquilo que para muitas pessoas é a indução não passa de uma má compreensão do que é a dedução e a selecção. Testar é, obviamente, o tipo de procedimento dedutivo- selectivo. Inventamos uma coisa e testamo-la. Quer dizer: abandonamo-la à selecção. (…) O que os indutivistas viram é que chegamos a generalizações por meio da tentativa e erro. Mas a tentativa e erro não são indução, mas precisamente presunção e selecção. Portanto os indutivistas interpretaram mal a forma lógica interna da tentativa e erro. Não viram que a tentativa é sempre uma presunção e o erro é sempre uma selecção, portanto uma denúncia, (…) um modelo dedutivamente refutacionista (…)
Mas então o que é ela? Pois dedução é que ela não é.
Criação. O mundo é criativo. Isto evidencia-se no facto de ele ter produzido um Mozart que é capaz de produzir as suas próprias obras. Sem dúvida Mozart aprendeu muito com seu pai, com Bach e com mestres italianos. Mas dizer que a música de Mozart não seria mais do que a generalização de tudo isso seria ridículo. É evidente que o facto de ele ter ouvido muitas obras antes de ele próprio começar a compor não põe em causa o valor das suas próprias criações.
POPPER, Karl, Sociedade Aberta – Universo Aberto, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1991
Editado por Alda Martins
- Ver: refutabilidade ou falsificabilidade (OBraga) .